terça-feira, 20 de setembro de 2011

Letras de músicas de 1935


Feitiço da Vila – Noel Rosa

Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.
Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.
A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço descente
Que prende a gente
O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus,
não vem agora
que as morenas
vão logo embora
Eu sei tudo o que faço
sei por onde passo
paixao nao me aniquila
Mas, tenho que dizer,
modéstia à parte,
meus senhores,
Eu sou da Vila!


Rosa – Orlando Silva

Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada e formada com ardor
Da alma da mais linda flor de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado pregado e crucificado 
Sobre a rósea cruz do arfante peito teu
Tu és a forma ideal, estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé e a dor em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus quanto é triste a incerteza de um amor 
Que mais me faz penar em esperar em conduzir-te um dia aos pés do altar
Jurar, aos pés do onipotente em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de te envolver até meu padecer de todo fenecer


Foi Numa Noite Assim – Carmen Miranda

Foi numa noite assim, cantaste só p'rá mim
ao meu ouvido uma canção
Feita do verbo amar e por acreditar
perdi meu coração (e agora em vão)
Procuro te esquecer, para não mais sofrer
da saudade o sabor
Pois teu olhar transforma logo em chama
as cinzas quentes deste amor
Se por acaso eu escuto um violão
juras de amor muito longe a murmurar
Sinto tristonha a morrer a ilusão
e no peito o coração chorar
Foi numa noite assim, cantaste só p'rá mim
ao meu ouvido uma canção
Feita do verbo amar e por acreditar
perdi meu coração (e agora em vão)
Procuro te esquecer, para não mais sofrer
da saudade o sabor
Pois teu olhar transforma logo em chama
as cinzas quentes deste amor
Foi só a ti que eu amei sinceramente
Amo-te ainda e p'rá sempre hei de te amar
Sinto ao lembrar teu amor tão ardente
a minh'alma triste a soluçar
Foi numa noite assim, cantaste só p'rá mim
ao meu ouvido uma canção
Feita do verbo amar e por acreditar
perdi meu coração (e agora em vão)
Procuro te esquecer, para não mais sofrer
da saudade o sabor
Pois teu olhar transforma logo em chama
as cinzas quentes deste amor


Grau dez – Francisco Alves

Yo te quiero
A vitória há de ser tua, tua, tua
Morenininha prosa
Lá no céu a própria lua, lua, lua
Não é mais formosa
Rainha da cabeça aos pés
Morena eu te dou grau dez!
O inglês diz "yes, my baby"
O alemão diz "iá, corração"
O Francês diz "bonjour, mon amour"
Très bien! Très bien! Très bien!
O argentino ao te ver tão bonita
Toca um tango e só diz "Milonguita"
O chinês diz que diz, mas não diz
Pede bis! Pede bis! Pede bis!


Minha Palhoça – Silvio Caldas

Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união
Tem um cavalo
Que eu comprei em Pernambuco
E não estranha a pista
Tem jornal, lá tem revista
Uma kodak para tirar nossa fotografia
Vai ter retrato todo dia
Um papagaio que eu mandei vir do Pará
Um aparelho de rádio-batata
E um violão que desacata
Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união
Tem um pomar
Que é pequenino, é uma tetéia, é mesmo uma gracinha
Criação, lá tem galinha
Um rouxinol que nos acorda ao amanhecer
Isso é verdade podes crer
A patativa quando canta faz chorar
Há uma fonte na encosta do monte
A cantar chuá-chuá.


4 comentários:

  1. Risque
    Meu nome do seu caderno
    Pois não suporto o inferno
    Do nosso amor fracassado
    Deixe
    Que eu siga novos caminhos
    Em busca de outros carinhos
    Matemos nosso passado
    Mas, se algum dia, talvez, a saudade apertar
    Não se perturbe, afogue a saudade
    Nos copos de um bar
    Creia
    Toda a quimera se esfuma
    Como a brancura da espuma
    Que se desmancha na areia

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    Respostas
    1. Súplica
      Orlando Silva
      Aço frio de um punhal
      Foi o seu adeus para mim
      Não crendo na verdade, implorei, pedí
      As súplicas morreram n'um eco em vão
      Sofrendo nas paredes frias de um apartamento
      Torpor tomou-me todo
      E eu fiquei sem ver mais nada
      Agradecido tinha, talvez, quem sabe!
      Pela janela fria a madrugada torturou minha dor
      Num pranto da garôa
      Esperança, morreste muito cedo
      Saudade! Cedo de mais chegaste...
      Uma quando parte a outra sempre chega
      Chorar, se lágrimas não tenho
      Coração, por que é que tú não paras?
      A causa do meu amor findaste
      É inútil prosseguir se forças já não tenho
      Tu sabes bem que ela era a minha vida
      Meu doce grande amor

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  2. Caprichos do Destino
    Orlando Silva
    Composição: Pedro Caetano e Claudionor Cruz
    Se Deus um dia olhasse a terra e visse o meu estado
    Na certa compreenderia o meu trilhar desesperado
    E tendo ele em suas mãos o leme dos destinos
    Não deixar-me-ia assim, a cometer desatinos
    É doloroso, mas infelizmente é a verdade
    Eu não devia nem sequer pensar numa felicidade
    Que não posso ter
    Mas sinto uma revolta dentro do meu peito
    É muito triste não se ter direito, nem de viver
    Jamais consegui um sonho ver concretizado
    Por mais modesto e banal sempre me foi negado
    Assim meu Deus francamente devo desistir
    Contra os caprichos da sorte eu não devo insistir
    Eu quero fugir ao suplício a que estou condenado
    Eu quero deixar esta vida onde eu fui derrotado
    Sou um covarde bem sei que o direito é levar a cruz até o fim
    Mas não posso é pesada demais para mim
    É doloroso, mas infelizmente é a verdade
    Eu não devia nem sequer pensar numa felicidade
    Que não posso ter
    Mas sinto uma revolta dentro do meu peito
    É muito triste não se ter direito, nem de viver

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  3. Eu sempre fui feliz, vivendo só sem ter amor,
    Mas o destino quis roubar-me a paz de sonhador
    E pôs no sonho meu um olhar de ternura
    De alguém que, mesmo em sonho, roubou minha ventura

    Sonhei com esse alguém noites e noites sem cessar
    Por fim, alucinado, fui pelo mundo a procurar
    Aquele olhar tristonho da cor do luar
    Mas tudo foi um sonho, pois não pude encontrar

    Mas na espinhosa estrada desta vida, sem querer, um dia
    Encontrei com esse alguém que tanto eu queria
    Esse alguém que, mesmo em sonho
    Eu amei com tanto ardor não compreendeu a minha dor

    Fui inspirado então na ingratidão de quem amava tanto
    Que fiz esta triste valsa, triste como o pranto
    Que me mata de aflição, bem sei que esta valsa será
    A minha última inspiração.

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