terça-feira, 20 de setembro de 2011

As cinco músicas mais tocadas em 1939

1° O que é que a Baiana tem? – Carmen Miranda & Dorival Caymmi


O que é que a baiana tem?
O que é que a baiana tem?
Tem torso de seda tem (tem)
Tem brinco de ouro tem (tem)
Corrente de ouro tem (tem)
Tem pano da Costa tem (tem)
Tem bata rendada tem (tem) 
Pulseira de ouro tem (tem)
E tem saia engomada tem (tem)
Tem sandália enfeitada tem (tem)
E tem graça como ninguém...!
O que é que a baiana tem? (bis)
Como ela requebra bem...!
O que é que a baiana tem? (bis)
Quando você se requebrar caia
por cima de mim (tris)
O que é que a baiana tem?
Mas o que é que a baiana tem?
O que é que a baiana tem?
Tem torso de seda tem (tem?)
Tem brinco de ouro tem (ah!)
Corrente de ouro tem (que bom!)
Tem pano da Costa tem (tem)
Tem bata rendada tem (e que mais?)
Pulseira de ouro tem (tem)
Tem saia engomada tem (tem)
Sandália enfeitada tem
Só vai no Bonfim quem tem...
O que é que a baiana tem? (bis)
Só vai no Bonfim quem tem...
O que é que a baiana tem? (bis)
Um rosário de ouro, uma bolota assim
Ai, quem não tem balangandãs
não vai no Bonfim
Ôi, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Ôi, não vai no Bonfim (6 vezes)



2° A Jardineira – Orlando Silva

O jardineira por que estas tão triste
Mas o que foi que te aconteceu
Foi a Camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
Foi a Camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
O jardineira por que estas tão triste
Mas o que foi que te aconteceu
Foi a camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
Foi a Camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
Vem jardineira
Vem meu amor
Não fique triste 
Que este mundo é todo teu
Tu és muito mais bonita 
Que a camélia que morreu
O jardineira por que estas tão triste
Mas o que foi que te aconteceu
Foi a camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
Foi a Camélia que caiu do galho
Deu dois suspiros e depois morreu
Vem jardineira
Vem meu amor
Não fique triste 
Que este mundo é todo teu
Tu és muito mais bonita 
Que a camélia que morreu



3° No Rancho Fundo – Silvio Caldas

No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade contam coisas da cidade
No rancho fundo, de olhar triste e profundo
Um moreno conta as mágoas tendo os olhos rasos d'água
Pobre moreno, que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno ele pega da viola
E a lua por esmola vem pro quintal deste moreno
No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia
Os arvoredos já não contam mais segredos
E a última palmeira já morreu na cordilheira
Os passarinhos internaram-se nos ninhos
De tão triste esta tristeza enche de trevas a natureza
Tudo por quê? Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapê



4° Aquarela do Brasil – Francisco Alves

Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
O Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...
Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil! Brasil!
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória luz da lua
Toda a canção do meu amor
Quero ver essa dona caminhando
Pelos salões arrastando
O seu vestido rendado
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...
Brasil, terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
O Brasil verde que dá
Para o mundo se admirar
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...
Ô, esse coqueiro que dá coco
Oi onde amarro minha rede
Nas noites claras de luar
Brasil! Brasil!
Ô, oi essas fontes murmurantes
Oi onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar
Oi, esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiro
Brasil! Brasil!
Pra mim... Pra mim...



5° Deusa da Minha Rua – Silvio Caldas

A Deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho,
Que o sol num dourado sonho,
Vai claridade buscar,
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Teu vulto que me seduz
A ruazinha modesta,
É uma paisagem de festa
É uma cascata de luz,
Na rua uma poça d'água,
Espelho da minha mágoa
Transporta o céu para o chão,
Tal qual o chão da minha vida
A minha alma colorida
O meu pobre coração
Infeliz da minha amada
Meus olhos são poças d'água
Sonhando com teu olhar...
Ela é tão rica, e eu tão pobre,
Eu sou plebeu, e ela é nobre
Não vale a pena sonhar


Músicas pesquisadas por Ágatha, Felipe Lau e Rafael.

As cinco músicas mais tocadas em 1938

1° Pastorinhas – Silvio Caldas

A estrela d'alva
No céu desponta
E a lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor
Linda pastora
Morena da cor de Madalena
Tu não tens pena
De mim que vivo tonto com o meu olhar
Linda criança
Tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa
De sempre e sempre te amar


2º Camisa Listada-Carmen Miranda

Vestiu uma camisa listrada, 
E saiu por aí, 
Em vez de tomar chá com torrada, 
Ele tomou Parati, 
Levava um canivete no cinto, 
E um pandeiro na mão, 
E sorria quando o povo dizia, 
Sossega, Leão, sossega Leão.
Tirou o seu anel de doutor, 
Para não dar o que afalar, 
E saiu, dizendo, eu quero mamá, 
Mamãe eu que mamá.
Levava um canivete no cinto, 
E um pandeiro na mão, 
E sorria quando o povo dizia, 
Sossega Leão, sossega Leão.
Levou meu saco de água quente, 
Pra fazer chupeta, 
E rompeu a minha cortina de veludo, 
Pra fazer uma saia, 
Abriu meu guarda-roupa, 
Arrancou a combinação, 
Até do cabo de vassoura, 
Ele fez um estandarte, para o seu Cordão.
E agora que a batucada, 
Já vai terminando, 
Eu não deixo e não consinto, 
Meu querido debochar de mim, 
Porque, se ele pegar as minhas coisas, 
Vai dar o que falar, 
Se fantasia de Antonieta, 
E vai dançar no Bola Preta, 
Até o sol raiar...


3° Se Acaso Você Chegasse- Cyro Monteiro

Se acaso você chegasse
No meu chateau e encontrasse
Aquela mulher que você gostou
Será que tinha coragem 
De trocar nossa amizade
Por ela que já lhe abandonou?
Eu falo porque essa dona 
Já mora no meu barraco 
À beira de um regato
E de um bosque em flor
De dia me lava a roupa
De noite me beija a boca
E assim nós vamos vivendo de amor


4º Na Baixa do Sapateiro – Carmen Miranda

 Ai, o amô, ai, ai
Amô, bobage que a gente não explica, ai, ai
Prova um bocadinho ôi, fica envenenado, ôi
E p'ro resto da vida é um tá de sofrê, olará, olerê
Ôi, Bahia, ai, ai
Bahia que não me sai do pensamento, ai, ai
Faço o meu lamento ôi, na desesperança, ôi
de encontrá p'resse mundo o amô que eu perdi
na Bahia, vô contá:
Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia
o moreno mais frajola da Bahia
Pediu-me um beijo, não dei
Um abraço, sorri
Pediu-me a mão, não quis dar... e fugi
Bahia, terra da felicidade
Moreno, eu ando louca de saudade
Meu Sinhô do Bonfim
arranje outro moreno igualzinho pra mim


5° Touradas em Madrid – Almirante

Eu fui às touradas em Madri
E quase não volto mais aqui
Pra ver Peri beijar Ceci.
Eu conheci uma espanhola
Natural da Catalunha;
Queria que eu tocasse castanhola
E pegasse touro à unha.
Caramba! Caracoles! Sou do samba,
Não me amoles.
Pro Brasil eu vou fugir!
Isto é conversa mole para boi dormir!

As cinco músicas mais tocadas em 1937


1° Carinhoso – Orlando Silva

Meu coração
Não sei por que
Bate feliz
Quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim
Foges de mim
Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso
E muito muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus
A procura dos teus
Vem matar esta paixão
Que me devora o coração
E só assim então
Serei feliz, bem feliz


2° Chão de Estrelas – Silvio Caldas

Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão


3° Periquitinho Verde – Dircinha Batista

Meu periquitinho verde
Tire a sorte por favor
Eu quero resolver
Este caso de amor
Pois se eu não caso
Neste caso eu vou morrer
O que eu não quero
É depois de me casar
Ouvir a filharada
Noite e dia a me amolar
Pois eu juro que não tenho
Paciência de aturar
"mamãe eu quero mamar"


4º Coração Materno – Vicente Celestino

Disse um campônio à sua amada: "Minha idolatrada, diga o que quer
Por ti vou matar, vou roubar, embora tristezas me causes mulher
Provar quero eu que te quero, venero teus olhos, teu corpo, e teu ser
Mas diga, tua ordem espero, por ti não importa matar ou morrer"
E ela disse ao campônio, a brincar: "Se é verdade tua louca paixão
Parte já e pra mim vá buscar de tua mãe inteiro o coração"
E a correr o campônio partiu, como um raio na estrada sumiu
E sua amada qual louca ficou, a chorar na estrada tombou
Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sangrando da velha mãezinha o pobre coração
E volta à correr proclamando: "Vitória, vitória, tens minha paixão"
Mas em meio da estrada caiu, e na queda uma perna partiu
E à distância saltou-lhe da mão sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou: "Magoou-se, pobre filho meu?
Vem buscar-me filho, aqui estou, vem buscar-me que ainda sou teu!"


5° Lábios que Beijei – Orlando Silva

Lábios que beijei / 
Mãos que afaguei
Numa noite de luar, assim,
O mar na solidão bramia / 
E o vento a soluçar, pedia
Que fosses sincera para mim.

Nada tu ouviste / 
E logo que partiste
Para os braços de outro amor.
Eu fiquei chorando / 
Minha mágoa cantando
Sou estátua perenal da dor.

Passo os dias soluçando com meu pinho
Carpindo a minha dor, sozinho
Sem esperanças de vê-la jamais
Deus tem compaixão deste infeliz
Porque sofrer assim
Compadei-vos dos meus ais.
Tua imagem permanece imaculada
Em minha retina cansada / 
De chorar por teu amor.
Lábios que beijei / 
Mãos que afaguei

As cinco músicas mais tocadas em 1936


1° Pierrô Apaixonado – Joel & Gaúcho 

Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando
A colombina entrou num botequim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim
Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim


2° O Ébrio – Vicente Celestino

Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer 
aquela ingrata que eu amava e que me abandonou 
Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer 
Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou 
Só nas tabernas é que encontro meu abrigo 
Cada colega de infortúnio é um grande amigo 
que embora tenham como eu seus sofrimentos 
me aconselham e aliviam os meus tormentos 
Já fui feliz e recebido com nobreza até 
Nadava em ouro e tinha alcôva de cetim 
E a cada passo um grande amigo que depunha 
 
e nos parentes confiava, sim! 
E hoje ao ver-me na miséria tudo vejo então 
O falso lar que amava e que a chorar deixei 
Cada parente, cada amigo era um ladrão 
Me abandonaram e roubaram o que amei! 

Falsos amigos eu vos peço, imploro a chorar 
Quando eu morrer à minha campa nem 
uma inscrição 
Deixai que os vermes pouco a pouco venham 
terminar 
este ébrio triste e este triste coração 
Quero somente que na campa em que 
eu repousar 
os ébrios loucos como eu venham depositar 
os seus segredos ao meu derradeiro abrigo 
e suas lágrimas de dor ao peito amigo


3° Mágoas de Caboclo – Orlando Silva

Cabocla teu olhar está me dizendo
Que você está me querendo
Que você gosta de mim
Cablocla, não te dou meu coração
Você hoje me quer muito
Amanhã não quer mais não
Não creio mais em amor nem amizade
Vivo só pela saudade
Que o passado me deixou
A vida para mim não vale nada
Desde o dia em que a malvada
Meu coração estraçalhou
E as vezes pela estrada enluarada
Lembro-me de uma toada
Que ela para mim cantava
Quando eu era feliz e não pensava
Que a desgraça em minha porta
Passo a passo me rondava
Depois que ela partiu eu fiquei triste
Nada mais pra mim existe
Fiquei no mundo a penar
E quando penso nela,
Oh! Grande Deus
Eu sinto nos olhos meus
Triste lágrima a rolar


4º É bom parar- Francisco Alves

Por que bebes tanto assim rapaz? 
Chega, já é demais
Se é por causa de mulher
É bom parar
Porque nenhuma delas
Sabe amar
Se tu hoje estás sofrendo
É porque Deus assim quer
E quanto mais vai bebendo
Mais lembras desta mulher
Não crês, conforme suponho,
Nestes versos de canção:
"Mais cresce a mulher no sonho, oi
Na taça e no coração"
Sei que tens em tua vida
Um enorme sofrimento
Mas não penses que a bebida
Seja um medicamento
De ti não terei mais pena
É bom parar por aí
Quem não bebe te condena, oi
Quem bebe zomba de ti


5° No Tabuleiro da Baiana – Carmen Miranda & Luiz Barbosa

Luiz Barbosa - No tabuleiro da baiana tem...
Carmen Miranda - Vatapá, ôi, caruru,
mungunzá, ôi, tem umbu... pra Ioiô
LB - Se eu pedir você me dá?
CM - ...lhe dou
LB -...o seu coração
o seu amor de Iaiá?
CM - No coração da baiana tem...
LB - Sedução, ô, canjerê,
ilusão, ôi, candomblé
CM - Pra você...
LB - Juro por Deus, pelo Sinhô do Bonfim
Quero você baianinha, inteirinha pra mim
CM - Sim, mas depois o que será de nós dois?
Teu amor é tão fugaz, enganador!
LB - (Mentirosa, mentirosa, mentirosa) breque
Tudo já fiz, fui até num canjerê
Pra ser feliz, meus trapinhos "juntei" (*) com
você
CM - Sim, mas depois vai ser mais uma ilusão
Que no amor quem governa é o coração...!

Letras de músicas de 1935


Feitiço da Vila – Noel Rosa

Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos,
Do arvoredo e faz a lua,
Nascer mais cedo.
Lá, em Vila Isabel,
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba.
São Paulo dá café,
Minas dá leite,
E a Vila Isabel dá samba.
A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa
Transformou o samba
Num feitiço descente
Que prende a gente
O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
"Sol, pelo amor de Deus,
não vem agora
que as morenas
vão logo embora
Eu sei tudo o que faço
sei por onde passo
paixao nao me aniquila
Mas, tenho que dizer,
modéstia à parte,
meus senhores,
Eu sou da Vila!


Rosa – Orlando Silva

Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada e formada com ardor
Da alma da mais linda flor de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado pregado e crucificado 
Sobre a rósea cruz do arfante peito teu
Tu és a forma ideal, estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé e a dor em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus quanto é triste a incerteza de um amor 
Que mais me faz penar em esperar em conduzir-te um dia aos pés do altar
Jurar, aos pés do onipotente em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de te envolver até meu padecer de todo fenecer


Foi Numa Noite Assim – Carmen Miranda

Foi numa noite assim, cantaste só p'rá mim
ao meu ouvido uma canção
Feita do verbo amar e por acreditar
perdi meu coração (e agora em vão)
Procuro te esquecer, para não mais sofrer
da saudade o sabor
Pois teu olhar transforma logo em chama
as cinzas quentes deste amor
Se por acaso eu escuto um violão
juras de amor muito longe a murmurar
Sinto tristonha a morrer a ilusão
e no peito o coração chorar
Foi numa noite assim, cantaste só p'rá mim
ao meu ouvido uma canção
Feita do verbo amar e por acreditar
perdi meu coração (e agora em vão)
Procuro te esquecer, para não mais sofrer
da saudade o sabor
Pois teu olhar transforma logo em chama
as cinzas quentes deste amor
Foi só a ti que eu amei sinceramente
Amo-te ainda e p'rá sempre hei de te amar
Sinto ao lembrar teu amor tão ardente
a minh'alma triste a soluçar
Foi numa noite assim, cantaste só p'rá mim
ao meu ouvido uma canção
Feita do verbo amar e por acreditar
perdi meu coração (e agora em vão)
Procuro te esquecer, para não mais sofrer
da saudade o sabor
Pois teu olhar transforma logo em chama
as cinzas quentes deste amor


Grau dez – Francisco Alves

Yo te quiero
A vitória há de ser tua, tua, tua
Morenininha prosa
Lá no céu a própria lua, lua, lua
Não é mais formosa
Rainha da cabeça aos pés
Morena eu te dou grau dez!
O inglês diz "yes, my baby"
O alemão diz "iá, corração"
O Francês diz "bonjour, mon amour"
Très bien! Très bien! Très bien!
O argentino ao te ver tão bonita
Toca um tango e só diz "Milonguita"
O chinês diz que diz, mas não diz
Pede bis! Pede bis! Pede bis!


Minha Palhoça – Silvio Caldas

Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união
Tem um cavalo
Que eu comprei em Pernambuco
E não estranha a pista
Tem jornal, lá tem revista
Uma kodak para tirar nossa fotografia
Vai ter retrato todo dia
Um papagaio que eu mandei vir do Pará
Um aparelho de rádio-batata
E um violão que desacata
Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união
Tem um pomar
Que é pequenino, é uma tetéia, é mesmo uma gracinha
Criação, lá tem galinha
Um rouxinol que nos acorda ao amanhecer
Isso é verdade podes crer
A patativa quando canta faz chorar
Há uma fonte na encosta do monte
A cantar chuá-chuá.


Letras de músicas de 1934

Linda Lourinha – Silvio Caldas


Loirinha, loirinha
Dos olhos claros de cristal
Desta vez em vez da moreninha 
Serás a rainha do meu carnaval
(bis)
Loura boneca que vens de outra terra
Que vem de Inglaterra
Que vem de Paris
Quero te dar o meu amor mais quente
Do que o sol ardente 
Deste meu Brasil
Linda loirinha tens olhar tão claro
Deste azul tão raro
Como o céu de anil
Mas tuas faces vai ficar morenas
Como das pequenas deste meu Brasil
Loirinha, loirinha
Dos olhos claros de cristal
Desta vez em vez da moreninha 
Serás a rainha do meu carnaval



O Correio Já Chegou – Francisco Alves


O Correio já chegou, ô, ô, 
Nem uma cartinha de você... 
Todo dia a mesma coisa, 
E eu de longe, sem saber porque. (bis) 

Longe dos olhos, 
Longe do coração, 
É o ditado mais certeiro, 
Deste mundo de ilusão, 
Amor, 
Como é triste a minha sorte !... 
Só espero agora a morte ; 
É tudo o que me resta, pra consolação. 

Minha mágoa, 
Vem da confiança, 
Que em você depositava, 
Minha única esperança, 
Amor, 
Já que tudo está perdido, 
Apaga-me de todo, da tua lembrança.


A Mulher Que Ficou na Taça – Francisco Alves


Fugindo da nostalgia 
Vou procurar alegria 
Na ilusão dos cabarés 
Sinto beijos no meu rosto 
E bebo por meu desgosto 
Relembrando o que tu és
E quando bebendo espio 
Uma taça que esvazio 
Vejo uma visão qualquer 
Não distingo bem o vulto 
Mas deve ser do meu culto 
O vulto dessa mulher...
Quanto mais ponho bebida 
Mais a sombra colorida 
Aparece em meu olhar 
Aumentando o sofrimento 
No cristal em que, sedento 
Quero a paixão sufocar
E no anseio da desgraça 
Encho mais a minha taça 
Para afogar a visão 
Quanto mais bebida eu ponho 
Mais cresce a mulher no sonho 
Na taça, e no coração.



Maria – Silvio Caldas


Maria 
O teu nome principia 
Na palma da minha mão 
E cabe bem direitinho 
Dentro do meu coração
Maria
Maria, de olhos claros cor do dia
Como os de Nosso Senhor
Eu por vê-los tão de perto
Fiquei ceguinho de amor
Maria
No dia minha querida
Em que juntinhos na vida
Nós dois nos quisermos bem
À noite em nosso cantinho
Hei de chamar-te baixinho
Não há de ouvir mais ninguém
Maria
Maria, era um nome que eu dizia 
Quando aprendi a falar
Da vozinha coitadinha 
Que eu não canso de chorar
Maria
E quando eu morar contigo
Tu hás de ver que perigo
Que isso vai ser
Ai, meu Deus
Vai nascer todos os dias
Uma porção de Marias 
De olhinhos da cor dos teus
Maria
Maria



Alvorada – Carmen Miranda


Vem raiando a aurora (est.)
Vai clareando o dia, vai...
E vem o sol raiando lá no céu
Para findar nossa alegria
A cuíca lá no alto, ronca a noite inteira
Embalando aquela gente, lá do morro de Mangueira
E o samba se prolonga, até alta madrugada
Mas o dia vem raiando, vai cessando a batucada
(Ôi, vem, vem, vem)

Pra gozar a mocidade, fiz um samba no terreiro
E tinha gente da Favela, de Mangueira e do Salgueiro
E até mesmo da cidade, tinha gente que é dotô
E que sambavam de verdade, pra mostrar o seu valô
(Ôi, vem, vem, vem)